A Copa do Mundo de 2014 já é um sucesso antes mesmo da bola
rolar. Nunca na história desse país nenhum evento foi capaz, de forma tão eficaz,
de mostrar ao mundo a verdadeira cara do país, que se autoproclama Rei do
Futebol. Como sempre, nossos representantes afirmaram que essa seria a grande
oportunidade de mostrar para todos o que o Brasil tem a oferecer. Sendo assim,
tudo o que foi dito naquela época está sendo feito.
Realmente não entendo porque tanta reclamação e protestos,
diante de tamanha sinceridade, fato que sempre foi tão cobrado pelos
brasileiros, independente de sua classe social. Confesso que me surpreendi. Não
esperava que nossos políticos fossem ser tão eficientes. De fundo do meu
coração, e quem me conhece sabe que sempre pensei que as obras para o evento
mais importante do futebol mundial aconteceriam no esquema “Rouba, mas faz”.
Porém isso não aconteceu! Admito que errei.
Conforme foi dito por Joana Havelange, Diretora do ComitêOrganizador Local, filha de Ricardo Teixeira e neta de João Havelange, o quehavia para ser roubado já foi levado, porém as obras não serão entregue. Como
disse antes, eu estava errado. Não vai rolar o “Rouba, mas faz”, porém pelo
visto entra em cena o “Rouba e não faz”! Éramos felizes e não sabíamos!
Como afirmei no início, a Copa é um sucesso. Não queríamos
que o mundo descobrisse o Brasil de verdade? Pronto...o serviço tá feito. Agora
todos sabem que vivemos em um país cheio de burocracia, repleto de pessoas
arrogantes, que do alto do seu saber cansaram de afirmar que os especialistas
no assunto nada sabiam de Brasil e que na hora certa mostraríamos que daríamos
o nosso jeitinho. Pois tá aí. Agora nem com jeitinho, nem com milagre dará para
se fazer absolutamente nada. Aeroportos caóticos, estradas sucateadas, sistemas
de transporte inexistentes e por aí vai. Saúde? Educação? Nem vale a pena ser
citado, afinal de contas nunca tivemos isso por aqui e não seria a Copa que
traria. Aliás, essa não é a proposta do evento, diga-se de passagem. Se ela não
acontecesse por aqui, o cenário seria exatamente o mesmo e essas verbas desperdiçadas,
provavelmente, em qualquer outra coisa.
Aeroporto Tom Jobim - Rio de Janeiro |
Antes que pense diferente, nunca fui contra a Copa e sigo
sendo favorável a mesma. Sou contra o jeito como as coisas são feitas por aqui
e que o mundial apenas está evidenciando para todos, aquilo que estávamos
cansados de saber. A culpa não é da Copa, a culpa é do Brasil! Como já disse
Rica Perrone, este evento se tornou o sofá do corno...troca o sofá! Como se
nossos “líderes” não tivessem a criatividade para inventar seja lá o que for
para criar um novo esquema para fazer o que estão fazendo. Poderiam até
inventar uma festa infantil, que cada bola de gás teria um custo de R$ 100, o
bolo sairia por R$25.000, porém no caminho sofreria um grave acidente, o que
obrigaria o confeiteiro a refazer o mesmo com um orçamento 3 três vezes maior,
claro, sem concorrência devido a urgência do ocorrido. A bandinha que se
apresentaria na festinha, seria uma que é muito bem vista entre os convidados,
faria diversas propagandas para os organizadores do evento meses depois e, de
quebra, ainda posariam de bons moços ao lado de um Luciano Huck da vida. Esse é
o Brasil que todos amam.
Infelizmente não existem mocinhos e bandidos nessa história.
Somos (quase) todos bandidos. Até quem hoje protesta é bem provável que faça
isso porque não conseguiu a vaga que tanto desejava, ou perdeu, quando o
político que ele apoia não foi eleito. Pois se tivesse tido sucesso, estaria
vivendo no mesmo esquema desses que hoje estão no poder. Ninguém me contou, mas
já vi mais de uma vez, pessoas muito engajadas que ao menor sinal de
possibilidade de faturar algum, diga-se de passagem honestamente, largam sua
ideologia e apoiam o evento de forma fervorosa. Imagina se a luta não fosse por
um ideal! Nada contra greves, muito pelo contrário, acho que o brasileiro é um povo
esfolado que deveria reclamar sim, porém fazer isso na véspera de um evento que
a grande (e põe grande) maioria apoiou e vibrou quando conquistou é que vejo
como sem pé nem cabeça. Além disso, pedindo muitas vezes coisas totalmente
descabidas e nitidamente para simplesmente tumultuar. Volto a perguntar, será
que os movimentos são mesmo movidos pelo ideal das pessoas? Mais uma vez o brasileiro aproveita a
oportunidade para mostrar o seu belo caráter.
Retorno à declaração de Joana Havelange, e mais uma vez
(infelizmente) concordo com ela. Quem tinha que roubar, como ela disse, já
roubou. Agora quem levará o prejuízo com o fracasso do evento serão aqueles que
procuraram investir para ter algum rendimento com o evento. Não me refiro aos
mega empresários não. Mas sim aqueles que lutam diariamente para tirar algum
nessas ocasiões.
Se tá na moda reclamar de estádio, vamos reclamar. É mais
fácil do que pensar em se especializar em gestão né? Afinal todos eles vão se
transformar em belos elefantes brancos. Essa teoria é uma das que mais me
deixam tristes de ver que já se consolidara até mesmo entre profissionais que
admiro passaram a defendê-la. Porém, se esquecem de que qualquer administração
bem mais ou menos, pode viabilizar quase qualquer coisa nesses locais nos dias
em que não ocorrem eventos esportivos ali. É mais fácil criticar do que
procurar entender, porque países ricos investem nessas instalações, não par usá-los
apenas nos dias de jogos, mas sim transformá-los em locais úteis para a
sociedade, que no caso deles, provavelmente não precisam de escolas ou
hospitais, já que eles têm isso em outros locais e modelos. Porém, exemplos não
faltam até mesmo de estádios que servem de unidades educacionais durante os
dias de semana e são rentáveis para os gestores. Pensar dá trabalho e pra muita
gente isso incomoda. É melhor ser “modinha” e criticar do que procurar entender
o porquê os eventos esportivos são disputados a tapa por tanta gente.
Perdemos provavelmente a melhor oportunidade que tivemos em
séculos, mas mostramos pro mundo a verdadeira cara do Brasil, conforme foi
prometido. Penso que merecemos aprimorar nossos representantes, assim como a
nossa própria sociedade. Tá cada vez mais complicado viver por aqui. Mas se
rolar um evento bacana, com uma pinta cultural, vai ter um monte de gente
achando interessante mostrar seu apoio, mesmo que isso também receba apoio governamental
e que dê grana pra muita gente que se diz engajado por aí.
Em outubro quero ver esse povo todo protestando e mostrando
que a solução está chegando por trás de uma legenda milagreira, como foi um tal
PT décadas atrás. Ai teremos novos líderes que repetirão tudo de novo, afinal,
o problema não é a Copa, mas sim o brasileiro. Em 2016 teremos Jogos Olímpicos
e até agora pouco se viu questionamentos sérios a respeito das contas deste
evento. Vamos deixar para ser conscientes no segundo semestre de 2015, afinal
novas eleições estarão chegando e quem estará de fora terá uma nova
oportunidade de dar a volta por cima.
*Por Rodrigo Calvoso
Esse texto reflete a opinião pessoal do autor e não é um artigo editorial