O post de hoje será uma publicação de um de nossos parceiros, a
Nova Guarda Consultoria, empresa especializada em projetos de sustentabilidade. Durante a visita ao evento Arnold Classic Brasil, Cassio Novo observa detalhes que muitas vezes passam desapercebidos dos gestores de eventos esportivos, que poderiam gerar receitas, colaborar com o meio ambiente e valorizar a imagem da sede da atividade.
Confira a matéria e recomendamos a constante visita ao blog da Nova Guarda.
No último final de semana, 27 de abril, ocorreu no Rio de Janeiro o Arnold Classic Brasil 2013. Pela primeira vez organizado em um país da América Latina, o evento foi realizado pelo mais famoso dos fisiculturistas, ator e ex-governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger.
Sob o ponto de vista cultural o evento foi um tremendo sucesso. O evento é pensado para -além de possibilitar negócios – aproximar o publico de seus ídolos do fisiculturismo e aumentar a interação entre as pessoas e suas referência no esporte. Era muito comum vê-los circulando entres os estandes, tirando fotos com fãs, dando dicas e conselhos ou simplesmente interagindo. Mais importante ainda perceber como uma das tribos que tanto sofre com o estigma de gigantes embrutecidos pode atrair tantas pessoas para um mesmo local. E promover interessantes possibilidades de interação social entre grupos distintos mas que partilham de interesses comuns. Muitas crianças estiveram presentes no evento e não era raro perceber como aquelas montanhas repletas de músculos as tratavam com carinho, gentileza e atenção.
Do ponto de vista da organização do evento não se pode dizer que foi um fracasso. Mas a nossa capacidade de realizar eventos de algum porte é muito abaixo do que se espera de um país que deveria estar se preparando para realizar os mega eventos que se aproximam em sua agenda. Falta de informação, inexistência de indicação visual para facilitar e agilizar a experiência dos visitantes para entrar, usufruir e sair do local do evento chamaram a atenção. Ambiente caótico no interior no pavilhão com muitas pessoas circulando pelos mesmos locais, formando filas para tudo sem orientação de qualquer pessoa da produção do evento ou dos expositores e a já conhecida tendência de alguns de achar que furar a fila é sempre a melhor saída para otimizar a resolução do SEU problema…
Do ponto de vista da sustentabilidade em eventos: uma catástrofe! Se o Rio de Janeiro busca se firmar como polo atrativo de novos negócios deveria estar mais atento a este ponto. O evento, em nenhum momento, soube aproveitar as possibilidades existentes para tornar mais agradável, eficiente, menos dispendiosa ou reduzir o impacto ambiental de sua realização. Vamos começar pelos pontos positivos que deixaram de ser contemplados?
O evento ocorreu no Centro de Convenções SulAmérica (CCSA). Localizado em área central, muito próximo da estação do metrô Estácio (200m), o evento poderia ter estimulado a utilização do metrô como uma alternativa interessante para o público. Essa medida, além de reduzir a emissão de gases nocivos ao ambiente, facilitaria a chegada de atletas que, em grande parte, chegavam de aeroportos e terminais rodoviários de táxi ou carros e possuíam horário certo para suas apresentações. Durante grande parte dos 3 dias de evento o entorno do CCSA esteve abarrotado de carros e motoristas sem saber ao certo onde estacionar. A própria página do CCSA poderia ter sido utilizada pela organização do evento (http://www.ccsulamerica.com.br/localizacao.aspx#acessibilidade).
Poderia ter sido oferecida uma gama mais variada de opções para alimentação. Existia uma área de alimentação no interior do pavilhão. Contudo, eram escassas e muito pouco saudáveis as opções de um evento que, em última análise, ofereceu alternativas para uma vida menos sedentária, mais ativa e promotoras de melhores condições de vida e de saúde.
E os aspectos negativos?
Já falamos sobre os problemas relacionados à falta de sinalização e pessoas capacitadas ou em quantidade suficiente para esclarecer ou informar.
Música alta e diferente em cada um dos estandes. Entendo que a música faz parte e cria uma atmosfera em eventos como este. Mas quando não se pode conversar, quando se há disputa entre os estandes para ver qual deles a coloca em volume maior ou quando se dificulta a compreensão do que é dito pelo locutor oficial ao apresentar os atletas no palco podemos intuir que houve algum problema na gestão do som.
Por falar em dificuldade de falar e entender…em um evento internacional que recebe seu nome em inglês e apresenta diversos atletas internacionais, com empresas estrangeiras oferecendo seus produtos e produtos brasileiros com nome em inglês é inadmissível a falta de placas e informações em inglês. As poucas que existiam eram sempre escritas à mão pelos expositores ou aquelas referentes ao CCSA que contam com a tradução para banheiros, escadas, etc…mais um ponto que a produção deixou a desejar!
O campeão, como geralmente é, foi o lixo! A quantidade de resíduos gerados foi imensa! Como a grande maioria dos expositores (96 no total de acordo com o site oficial do evento) era constituída de empresas que vendem suplementos alimentares quase todos ofereciam amostras grátis (pequenas doses) de seus produtos assim como folhetos ilustrados. Em cada estande existiam grandes recipientes multicoloridos com os suplementos, belas modelos para chamar a atenção e uma pilha de copos plásticos para colocar o produto para degustação. Esses copos eram utilizados, quase em sua totalidade, apenas uma vez, pois o próximo suplemento a ser provado teria outro sabor. E era descartado nas raras lixeiras próximas aos estandes ou pelo chão do pavilhão! O mesmo acontecia com os folhetos.
Tivemos, portanto, uma orgia de desperdício! O resultado foram montanhas de lixo espalhadas por todos os cantos do CCSA e retiradas de tempos em tempos pelas equipes de limpeza. Montanhas que, de tão imponentes, atrapalhavam o fluxo das pessoas e contribuíam para aumentar a sensação de caos, confinamento do interior do pavilhão além de oferecer aos seus visitantes, expositores e produtores perigo de acidentes.
Como não me sinto à vontade de “apenas criticar” gostaria de dividir com vocês uma interessante alternativa que me ocorreu enquanto estive no evento. Imagino que contribuiria de forma eficiente e barata para a redução dos impactos negativos relacionados à geração e ao incorreto descarte dos resíduos e, por outro lado, poderia ser mais um elemento para, gradativamente, transformarmos a forma como entendemos e nos organizamos para receber ou promover eventos em nossa cidade, em nosso país.
O ingresso do Arnold Classic era um moderno cartão contendo um código de barras. Este era validado na bilheteria por um leitor digital e o seu portador era admitido no pavilhão.
E se ao invés do cartão o ingresso fosse uma caneca? E se nesta caneca estivesse impresso o mesmo código de barras? A caneca seria apresentada na portaria, o código identificado pelo leitor e a admissão ocorreria normalmente. No interior do pavilhão não haveria copos ou recipientes para se saborear as centenas de suplementos. Necessariamente a caneca deveria ser utilizada para este fim. No site oficial do evento deveria estar explicado o porquê da caneca e o compromisso da organização pela realização de um evento comprometido com a redução de impactos ambientais negativos.
Vejam bem: somente com uma ação – a substituição do cartão pela caneca – teríamos um mesmo objeto sendo pensado e produzido para ter mais de uma função (ingresso e recipiente para os suplementos), oportunidade de educar pelas informações e pelo exemplo, uma IMENSA redução na quantidade de resíduo gerado e indevidamente descartado, a melhoria do fluxo das pessoas no ambiente do evento, maior limpeza, menor risco de acidentes, menor probabilidade de vetores de doenças capazes de contaminar a área de alimentação (ou as marmitas que boa parte dos atletas carrega consigo e deixa no chão de seus estandes enquanto se apresentam ou trabalham), pouparia a matéria prima utilizada para produção dos milhares de copos plásticos utilizados, reduziria os custos da organização além de a caneca poder ser mais um souvenir capaz de levar a logomarca do evento, seus patrocinadores e da organização para muitos outros locais, ampliando a visibilidade dos investidores e prolongando o retorno do investimento feito no evento.
De que adianta, portanto, mente sã, corpo são, se não teremos uma cidade, um país, um planeta sadio capaz de nos acolher, abrigar? O exemplo da caneca é pequeno e poderia fazer parte de um todo muito mais complexo, repleto de outras pequenas ações como esta. Com certeza não é fácil e mudar nossa forma de ver o mundo e interagir com o meio que nos cerca é difícil e dolorosa. Mas a recompensa vale o esforço.
Como o lema dos fisiculturistas diz: No pain, no gain! (sem esforço, sem ganho!)
Cassio Novo com colaboração de Livia Cuesta
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