Trabalho em informática e volta e meia tenho que viajar para projetos no Exterior. Dessa vez, fui para Cidade do México, muito trabalho, mas felizmente com um fim de semana no meio para relaxar um pouco e conhecer um pouco do país.
Antes de embarcar, entrei em sites de turismo para saber de atrações turísticas
por lá. Como qualquer cidade grande, existem muitas coisas para se fazer, como:
visitar o parque de diversões (Six Flags); visitar as pirâmides do Sol e da Lua;
assistir a um show de luta livre, estilo telecatch; ir à Praça Garibaldi; ver
os Mariachis com seus sombreiros tocando e cantando; visitar Polanco e conhecer
os bares e lojas de renome internacional; dentre outras tantas atrações. Porém,
para mim amante de futebol, nada me chamou mais atenção que a possibilidade de fazer
um tour no Estádio Azteca.
Acessei o site do estádio, e para minha sorte e felicidade, vi que não poderia
fazer o tour no fim de semana que estaria lá, pois seria dia de jogo. O time
local, América do México, enfrentaria o Atlas. Seria um sonho conhecer o estádio
que Pele e companhia derrotaram a Itália por 4 a 1, na final da Copa de 70,
trazendo o tri Campeonato mundial para o Brasil e a taça Jules Rimet. Sendo esse estádio o mesmo do famoso gol de
Diego Armando Maradona, batizado como “a Mão de Deus”, que ajudou a Argentina a
conseguir o Bicampeonato mundial em 1986.
Tanta história em um estádio, que por sinal, é atualmente o maior da América
Latina, devido à recente redução da capacidade do Maracanã.
Viajei para o México com a ideia fixa de conhecer o estádio e ver o
jogo, porém não pude comprar o ingresso com antecedência, pois dependia do
andamento do trabalho da semana e que não precisasse trabalhar hora extra no
fim de semana.
Fiquei hospedado em um bairro chamado Santa Fé, muito moderno, perto da empresa,
porém longe de todas as atrações turísticas mencionadas acima e longe do estádio
Azteca.
Por sorte, fiquei muito amigo das pessoas com quem trabalhei e conheci
no México, comentei que gostaria de ir ao jogo e para minha surpresa, a chefe
geral do projeto no México ama futebol e o Brasil e inclusive esteve na Copa do
Mundo no Brasil ano passado seguindo a seleção Mexicana. Ela me mostrou muitas
fotos de jogos em Natal, Fortaleza e Recife e disse que é torcedora fanática do
América e que fazia questão de me levar ao jogo, comprou os ingressos e
convidou os outros participantes do projeto para irem também.
Finalmente chegou o dia, fui de carro para o estádio com a gerente do
projeto, que é americana, a chefe da equipe mexicana e um dos seus
empregados. Chegando lá muito trânsito,
como esperado, mas não tivemos tanta dificuldade para estacionar. Havia pelo
menos uns 100 policiais com capacete e escudo, a gerente americana estava
apavorada achando que íamos para Guerra, e eu achando o máximo, parecia decisão
de campeonato no Brasil, um clássico cheio de rivalidade. Mas, na verdade, era
apenas um jogo sem importância, apenas a segunda rodada do Campeonato Mexicano,
que acabara de começar.
Assim que paramos o carro, vi o estádio, realmente impressionante, várias
barraquinhas de vendedores ambulantes com camisas, bonés e as ensurdecedoras
vuvuzelas famosas na Copa de 2010, na África do Sul. Vi algumas pessoas
pintarem o rosto com as cores do time da casa, gostei da ideia, mas pedi que
pintassem meu rosto com as cores da bandeira Mexicana, que são as mesmas cores
do Fluminense, meu time de coração, porém não foi possível, pois não tinham a
cor vermelha disponível, por não estar presente do escudo do América, então
desisti da ideia e quis logo entrar no estádio.
Ao entrar no estádio, ficamos em um assento na parte inferior, perto ao
campo. O estranho, ou pelo menos diferente, é que todos os estádios que fui até
hoje, eu tive que subir uma escada, nesse tive que descer, pois o campo foi construído
embaixo da terra, como um metrô. Passamos por um túnel, e me senti como se
fosse entrar em campo, passei pelo banheiro feminino e masculino e depois vi a
roleta onde eu deveria entregar meu ingresso e procurar meu assento. Carimbaram minha mão, pois caso eu quisesse ir
ao banheiro, eu teria que sair e passar pela roleta de novo para entrar. Até cheguei a ir ao banheiro do estádio para
conhecer, o estranho é que os empregados ficam do lado de fora e dão papel
toalha para enxugar as mãos, pois dentro não tem.
Enfim, chegando ao meu assento marcado, pude perceber um público pequeno,
levando se em consideração a capacidade do estádio, porém bem animado. Acredito
que o público foi aproximadamente de 30.000 pessoas, até porque as atenções esportivas
do país estavam com o Tigres, que disputava a final da Copa Libertadores na
mesma semana contra o River Plate, da Argentina.
Antes da partida começar, resolvemos comer alguma coisa. Minha amiga Mexicana chamou um vendedor que
trabalha no setor, como se fosse um garçom, ele anotou o pedido, pegou o
dinheiro e foi buscar a comida e o troco. Bem diferente do Brasil, onde
vendedores ambulantes ficam circulando pelas arquibancadas e cadeiras. Porém,
também vi ambulantes vendendo os mais variados tipos de comidas e bebidas. Sendo
que um deles me causou surpresa, os mexicanos comem sopa durante o jogo. Eu até
entenderia, caso fosse inverno, com temperatura baixa, mas num jogo à tarde,
com temperatura agradável, em torno de 27oC, achei o costume um
pouco estranho.
O jogo começou, e parecia que o time da casa ia massacrar, posse de bola
a la Barcelona, praticamente um ataque contra defesa. O time da casa enjoou de perder
gols, e no único contra-ataque do primeiro tempo, o Atlas abriu o placar. A torcida adversária se localizava acima de
onde eu estava, na parte superior do estádio, não pude ver a festa, mas pude
ouvir os cantos de euforia. Não estava
torcendo para nenhuma equipe especificamente, mas gostaria de ver um gol da
equipe local para ver como os torcedores comemorariam. No fim do primeiro tempo, o América conseguiu
o gol de empate. O primeiro tempo foi
agradável, gramado em excelente estado, mas o único jogador conhecido era Oribe
Peralta, titular da seleção Mexicana na última copa e craque da equipe. Comentei
no intervalo que o América iria crescer no jogo e golear, pois, o time do Atlas
era muito fraco e jogava como time pequeno. Como futebol é uma caixinha de
surpresa, o Atlas fez o segundo gol com 1 minuto de jogo do segundo tempo. O
gol foi uma ducha de água fria para a equipe da casa, que logo depois teve um
de seus atacantes, na minha opinião, o pior em campo até então, merecidamente
expulso. Diante desses fatos, um jogo aparentemente fácil se tornou complicadíssimo.
Porém, além do resultado momentâneo, o mais inusitado foi perceber que quando
o goleiro do time adversário batia o tiro de meta, a torcida local gritava em coro:
“PUTO” …. Isso mesmo, achei que fosse alguma rivalidade antiga, mas entendi que
não. Isso é cultural mesmo, e muito engraçado, eles fazem isso todo jogo. Minha
amiga Mexicana contou que nos jogos do México, durante a copa, a torcida
brasileira gostou da ideia e ajudou no coro. Todo tiro de meta contra o México,
na copa, a torcida gritava “PUTO” para o goleiro adversário, independente de
quem fosse. Então, todo tiro de meta era uma festa… Eu comecei a torcer para
ter tiro de meta, ao invés de torcer para mais gols saírem. Porém, para minha
surpresa, mais 1 gol saiu nos acréscimos do segundo tempo, para a equipe
visitante que acabou vencendo por 3 a 1 com uma performance que encheria de
orgulho José Mourinho e outros técnicos retranqueiros mundo a fora.
Na saída do estádio, não pudemos voltar ao estacionamento pelo mesmo caminho, pois os torcedores da equipe visitante sairiam por
ali. Para ir embora, teríamos que
esperar a torcida visitante ir embora primeiro ou dar a volta pelo lado externo
do estádio para retornar ao carro. Assim não haveria como as torcidas rivais se
encontrarem.
* Eduardo Duarte Barros é leitor assíduo do site e colaborador nas horas vagas.
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